A “Hortoridade”

por setembro/2016Crônicas0 Comentários

Hoje eu vou falar sobre meu amigo José Luiz.

Nascido em uma cidadezinha do interior da Paraíba, ele, ainda menino, resolveu tentar a vida o “Sul Maravilha”.

Aos “trancos e barrancos”, conseguiu chegar a nossa São Gonçalo, depois de viajar no lombo de jumento, de pau de arara, até a pé em longas caminhadas.

Nos idos de 1960, meu amigo “batalhou” muito na vida: foi aprendiz de pedreiro, lavador de copos, guardador de automóveis, empurrou carrinho nas feiras-livres, foi “babá” de cachorros de madames, não sobrava tempo para o meu amigo estudar.

Meu amigo foi convidado a trabalhar como cabo eleitoral de um candidato a vereador do nosso município, com a promessa de que se eleito teria um bom emprego no serviço público, seria mais um a “mamar” nas tetas do tesouro municipal.

Luiz não mediu esforços, subiu em postes, colou prospectos, pichou paredes, distribuiu santinhos, visitou favelas, andava com o seu candidato “para cima e para baixo”, correndo todas as biroscas da cidade.

Se havia uma coisa que meu amigo tinha para “dar e vender” era “disposição para trabalhar”, principalmente com a motivação da promessa do bom emprego, após a eleição.

Naquele tempo a escolaridade não era exigida, bastava saber assinar o nome.

Meu amigo dizia todo orgulhoso que isso ele sabia fazer bem, pois tinha ótima caligrafia.

Ele colocava a sua carteira de identidade na frente e levava meia hora copiando a assinatura. Sem a carteira para copiar, ele não conseguia “assassinar”, já que ele não conseguia fazer duas assinaturas iguais.

Apesar da enorme “curtura” do Luiz, o seu candidato conseguiu se eleger, e ai não teve como “fugir” da promessa feita ao meu amigo.

Constrangido, o novo vereador conseguiu uma vaga para o meu amigo na Guarda Municipal.

Luiz dizia para todos que ele agora tinha que ser respeitado e acatado, pois era uma “Hortoridade”, com “H” maiúsculo.

Certa feita, eu estava conversando com meu orgulhoso amigo e travamos o seguinte diálogo:

– Luiz, olha só que carro bonito!
– Qual?
– Aquele azulzinho ali!
– Você tá falando daquele vogue-vogue?
– Vogue-vogue? Você quer dizer Volkswagen?
– É! Você não sabe que eu tenho “dificulidade” para falar?!

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