Carnaval de Outrora

por fevereiro/2010Crônicas0 Comentários

Eles eram recém-casados, lá pelos idos de 1945. Ele já estava todo frajola, vestiu uma calça branca, uma camisa listrada, calçou um par de tamancos, colocou na cabeça um chapéu de palhinha. Abriu a porta da rua.

Ela perguntou:

– Você vai aonde?
Ele disse que ia “rosetar“.

Ela, com ar de tristeza:
– Sem mim?!

Ele:
– Só vou dar uma voltinha de bonde. E saiu cantarolando “Ó Jardineira porque estás tão triste”.

Ela ficou parada por alguns momentos. De repente, deu um sorriso maroto.

Ruy (era esse seu nome), pegou o bonde no Zé Garoto com destino a Niterói, já fazendo a maior festa no reboque do bonde, com outros foliões, muita serpentina, talco e confetes.

O bonde demorou a chegar em Niterói, pois no Paraíso, em Neves e depois no Barreto havia uma concentração grande de foliões.

Ao chegar em Niterói, ele entrou nos cordões, na Rua da PraiaRua da Conceição e depois de muito se esbaldar foi para o Rink tomar fôlego.

Lá pelas tantas, começou a sentir um pouco de remorso de ter deixado a sua Jandyra em casa sozinha.

No entanto, quando ele já se preparava para ir embora, passou um pai-joão (mulher vestida com roupa de homem com uma fronha no rosto), dando a maior bola a ele. Ruy se encheu de gás e caiu na gandaia.

O sábado depois do carnaval, à tardinha, Ruy agradeceu a Jandyra:
– A roupa está bem passada, eu estou todo gabola.

Jandyra:
– Você não disse que ia a uma entrevista para arrumar um novo emprego?

Ele, meio sem jeito:
– É isso mesmo.

Na sua cabeça, ele pensava: “Eu vou é me encontrar com o meu pai-joão, lá na porta do cinema Imperial em Niterói“.

Depois de o relógio marcar as 21:00, nosso herói chegou a casa, entrou na sala e ouviu uma pergunta que vinha do quarto.

– É você, Ruy? Como foi, arrumou o emprego?

Ele respondeu:

– Não, levei um bolo do dono da empresa, ele não foi trabalhar hoje.

Ele ouviu um riso vindo do quarto fechado. Jandyra, mandou ele entrar, dizendo que a porta estava encostada.

Ruy empurrou a porta e parou surpreso.

Ali estava em carne e osso o seu pai-joão.

0 comentários

Enviar um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Arquivos