Em Família

por fevereiro/2011Crônicas0 Comentários

No alto da colina, aquela construção, se destacava. Sim, lá está pintada de azul, um pouco abaixo do céu, também azul. Para alcançá-la é preciso subir uma pequena ladeira, margeada por uma vala de esgoto a céu aberto, um verdadeiro desleixo. A comunidade já solicitou às autoridades as obras necessárias para a ladeira. No entanto, esbarram na afirmativa por parte das autoridades, que dizem constar na prefeitura como rua asfaltada. Na política “não vale o que está escrito”, alguém comeu o asfalto.

Por sua vez a comunidade é “descansada”, como a maioria dos brasileiros. Pois se unissem-se poderiam em mutirão, manilhar a vala.

Caía a tarde, o manto da noite já se aproximava. O sino da igreja anunciava 18:00. O velho padre, um pouco abatido pelo passar do tempo e também por ter que se desdobrar entre duas comunidades e ser o responsável por duas igrejas. Os escalões superiores da igreja católica têm que atentar para os problemas que está acarretando a falta de padres.

A igreja se encontrava repleta, o velho pastor já ia iniciar a missa, quando, de repente para, e olha fixamente para a porta da igreja, e nada fala. Os fiéis percebem e todos ao mesmo tempo se viram em direção à porta do templo. Rostos de pavor, gritos misteriosos histéricos, faniquitos.

Homem gordo, vestido de terno

Foto: Brendan Riley

Indiferente ao medo espalhado, lá estava ele parado na porta, talvez na dúvida se entrasse ou não.

O padre se recupera da surpresa, bate palmas e tenta enxotá-lo. Na porta ele permanece imóvel, alheio ao padre.

Magro, esquelético, um pouco grande. Ele ameaça entrar na igreja.

Senhoras e senhoritas colocam os pés para cima dos bancos. A cor predominante nos rostos dos presentes era pálido-horror.

Um senhor bem vestido, corado, gordo – o único que não estava apavorado – se levanta, olha fixamente para o intruso, dizendo:

— Vá já para sua casa!

Incontinenti a ratazana abaixa a cabeça, dá meia volta e se retira. Foi como se se conhecessem há muito tempo.

A plateia homenageia o desconhecido com uma salva de palmas.

O pastor retoma o comando, e pergunta ao homem (herói) — O distinto cavalheiro não é de nossa comunidade, é?

— Não, eu não sou. Eu vim participar da festa de 50 anos de um primo meu. Eu sou um político antigo.

O padre retoma a palavra:

— Obrigado, não precisa explicar mais nada. Rezemos, meu povo, por este Brasil surrealista.

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