From Ipanema

por julho/2009Crônicas0 Comentários

Tenho saudades da Ipanema do meu tempo: as cadeiras de palhas do Zeppelin; o chope do Jangadeiros; os pastéis do Calípso. Tempo da Rua Monte NegroIpanema ainda era bairro carioca, ou melhor, Shangrilá carioca, depois virou “City internacional”.

Lembranças do Carlinhos de OliveiraHélio PellegrinoVinícius de MoraesLeila Diniz, que era o espírito de Ipanema personificado. Felizmente a igreja de Nossa Senhora da Paz continua no mesmo lugar, na sua praça.

Praia de Ipanema

Foto: Mike Vondran

Emílio veio de uma cidadezinha do interior de Minas Gerais, com o propósito de aprender a língua mais importante da época, o “Economês”. Como bom mineiro, queria morar perto da praia. E conseguiu morar no bairro dos sonhos de todos os brasileiros: Ipanema. Ele “enchia” a boca para dizer aos colegas do Banco, no qual era caixa, o bairro em que residia. Em verdade, ele “sleep in Ipanema“, já que ocupava uma vaga. Nas noites de sábado, comparecia ao teatro ou a algum cinema, quando tinha alguma receita extra. Esta receita era proveniente da venda das “muambas” que ele ia buscar no Paraguai.

Emílio estudou na Universidade mais cara do Rio, e que, ainda por cima, se achava no direito de se considerar de utilidade pública, para não pagar impostos.

Divertimento para ele só a praia, que ainda é grátis, uma das poucas coisas grátis que resta neste país. Às vezes um chopinho quente a beira mar, pois ele levava duas horas com o mesmo copo de chope, afinal, era o que permitia o seu magro orçamento (necessário tremendo ritual).

Emílio vivia numa grande contenção de despesas. Cigarro só da marca “Se me dão”. As finanças do rapaz estavam iguais às do Brasil, combalidas. Tomar cafezinhos só se pago pelos colegas do trabalho. Na sua vez de pagar, para não chamar atenção, ele escolhia um e convidava para ir beber café. Ao chegar ao bar pedia um cafezinho e com a desculpa de que estava quente solicitava uma outra xícara vazia, então dividia o cafezinho com o colega, alegando que café demais fazia mal para a saúde.

Certa feita, ele chegou atrasado no Banco, todo suado e despenteado, parecendo que tinha enfrentado um trem da Central na hora do rush. Os colegas perguntaram o que houve com ele. Emílio disse que tinha acordado tarde, resolveu pegar um táxi para chegar às barcas. Quando o táxi passava em frente à subida da Ponte, ele olhou o taxímetro e mandou o motorista parar, que ia descer ali.

– Mas por que você desceu no meio do caminho? – perguntou um colega do Banco.

Emílio então respondeu:
– O meu dinheiro só dava até ali…

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