O Contínuo

por julho/2015Crônicas0 Comentários

Volto a recuar no tempo, para recordar fatos ocorridos no meu tempo de bancário, na querida agência situada no bairro de Neves.

Naquela época, não existia ar condicionado na agência e o seu horário de funcionamento era das 9h às 18h, de segunda a sexta.

Ronaldo, o contínuo de quem vou falar, tinha, na época, 16 anos, era seu primeiro emprego. Magro e alto, “Chinesinho”, foi o apelido dado pelos colegas. Chegou para trabalhar “cheio de gás”, inteligente, interessado, logo, logo se ambientou.

Querido por todos, foi aprendendo outros serviços que não eram inerentes à sua função de contínuo.

Sempre alegre, contava piadas, discutia futebol, pronto a servir a quem solicitasse seus préstimos.

Ronaldo não recusava qualquer tipo de serviço, porém, o pior para meu amigo consistia na parte da limpeza, que estranhamente foi colocada como uma de suas obrigações, pois naquele tempo não existia firma de limpeza, coisa normal nos dias de hoje.

“Chinesinho” tinha, todos os dias, antes de abrir as portas do estabelecimento bancário para o público, que varrer o salão, passar espanador nas mesas e pano molhado no balcão de mármore.

O que ele mais detestava era a faxina geral de todos os sábados. Ele tinha que lavar o chão (corredor), limpar os banheiros, encerar o salão, limpar as vidraças, passar óleo nas mesas etc.

Realmente, trabalho muito duro. Quando terminava as tarefas, seu corpo só queria uma cama para descansar.

Às vezes ele pensava em desistir, porém, a necessidade do dinheiro “falava mais alto”. Assim sendo, meu amigo continuava sua rotina, praguejando os sábados.

O gerente da agência, Sr. Almeida, homem já idoso, meticuloso, tinha mania de limpeza, não dava folga ao meu amigo.

A primeira coisa que o Sr. Almeida fazia quando chegava no Banco, às 12h, era passar o dedo na ponta do balcão, fechava a cara e chamava o pobre contínuo:

– Sr. Ronaldo.
– Pois não!
– O senhor não limpou o balcão hoje.
– Eu limpei, pergunte ao subgerente.
– Mentira! Você o enganou. Pegue o espanador e limpe direito. Depois, pegue a vassoura e dê uma varridinha também.

Chateado, pois a agência estava cheia de clientes, lá ia meu amigo cumprir as ordens esdrúxulas do gerente ranzinza.

Certa feita, o Sr. Almeida voltou das férias antes de completar os 30 dias. Meu amigo pensou: acabou o meu sossego. “Chinesinho” então perguntou:

– Sr. Almeida, o que aconteceu?
– Eu senti saudades do trabalho, especialmente de você.
– Logo de mim? Eu mereço!

Dirigindo-se ao subgerente, o Sr. Almeida explicou o porquê da volta prematura. O subgerente, então olhou para Ronaldo e falou:

– É isso aí “chinesinho”, manda quem pode e obedece quem tem juízo.

”Chinesinho” respondeu:

– Falou e disse chefe! Com a volta do nosso “carma”, nossas “férias” acabaram.

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