O Peru Natalino

por dezembro/2009Crônicas0 Comentários

Natal, tempo de olharmos o que fizemos durante o ano que se finda. Tempo de uma aproximação maior com Deus. Tempo de se ajudar aos mais necessitados. Tempo de perdão. Tempo de pedir desculpas e ser desculpado. Bem! Depois dessas considerações, vamos à nossa história de hoje.

Há alguns anos (bota anos nisso) na Parada 40, havia um senhor, já aposentado, que era um verdadeiro Salvador da Pátria. Furava um cano em qualquer casa dos vizinhos. Lá ia o Sr. Natalino, esse era seu nome, resolver o problema. Queimava o fusível, em outra casa, prontamente ia ele trocar.

O Sr. Natalino andava sempre com suas sandálias de borracha gastas e suas calças sempre caindo – ele não conseguia fixar o cinto por sobre a barriga vasta. Com sua cabeleira branca, Sempre que ele entrava na padaria do “Manel” e encontrava alguma criança lá, ele comprava balas e dava a elas.

Ele era amigo de todos. Se naquela época houvesse voto distrital – hoje ainda não existe, porém os políticos um dia vão aprender – o Sr. Natalino seria a maior barbada.

Fácil, fácil. Existe sempre um Sr. Natalino em cada bairro deste imenso Brasil.

Como nem tudo é perfeito, a única pessoa que não gostava dele era a sua vizinha de parede, Dona Quitéria. Tudo em função dos cinco gatos que ela possuía, e que adoravam fazer suas necessidades na casa do Sr. Natalino.

Gato soldado com cara de mau

Foto: Kevin Dooley

Já era tradicional a festa de fim de ano organizada pelo Sr. Natalino. A festa consistia num jogo de futebol, entre solteiros e casados. Ao final do jogo consumiam-se dois perus, vinhos e cervejas. O mecânico, o padeiro, o barbeiro e parte da comunidade assinavam o Livro de Ouro, que era passado pelo Sr. Natalino.

Num desses anos, perto do grande dia, a esposa do Sr. Natalino passou muito mal. Preocupação alta, compraram alguns remédios e a patroa melhorou. Porém, para comprar esses medicamentos, que eram caros, Sr. Natalino precisou usar parte do dinheiro da festa. Ele não sabia o que fazer, pois o dinheiro só daria para as bebidas. Depois de mais uma briga com Dona Quitéria, ele teve a ideia salvadora. Chamou seu sobrinho Severino, que havia chegado do Norte há pouco tempo e que entendia de cozinha, e colocou o seu plano em ação.

Às 4:30 horas da madrugada, ele e o sobrinho entregaram na padaria cinco tabuleiros para serem assados. Perguntado se seriam cinco perus, ele disse que resolvera mudar o cardápio. Eram cinco coelhos à Moda do Norte.

Após o jogo, a rapaziada atacava os coelhos com avidez, embalados pelo desgaste físico, pelo vinho e pela cerveja.

Na padaria, Dona Quitéria, às 11:00 horas, comprava seu pão, com ar de tristeza. Para mexer com ela, o dono da padaria perguntou se ela não ia participar do “Peru do Natalino” – aliás, ele disse coelhos, cinco coelhos.

Dona Quitéria deu um pulo, pegou a faca de cortar queijos e partiu bufando. Bufando! Ao chegar no campo de futebol, um engraçadinho falou:

– Veio comer um pedacinho de coelho do Sr. Natalino?

Brandindo a faca, ela disse com muita raiva:

– Eu vim é comer o fígado deste “monstro”, que matou os meus cinco gatos.

Incontinente, o número de perseguidores do Sr. Natalino aumentou.

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