O Porre de Guaraná

por novembro/2013Crônicas0 Comentários

Amauri morava no bairro Paraíso em São Gonçalo, Rio de Janeiro, e não dispensava um peixinho frito e uma “branquinha”. Nos finais de semana, pela manhã, Amauri ia ao Gradim e comprava alguns peixes, direto das mãos dos pescadores do local. Infelizmente, ele foi transferido. O Banco no qual ele trabalhava o nomeou gerente de uma agência, em uma cidade do interior do Estado do Rio.

A cidade tinha duas ruas, um campo de futebol, uma praça, uma igreja e uma estação de trem, e mais nada. Ah, já estava me esquecendo… Havia também o orgulho da cidade. Sim, toda cidade do interior tem sempre algo para se orgulhar. E o orgulho daquela cidade era a “Saborosa”. Esse era o nome da cachaça número um da região, e uma das melhores do Brasil. Ela não deixava bafo. Quando colocada nos copos, fazia aquele colar de espuma que só as puras de fato fazem. Êta pinguinha saborosa!

Meu amigo Amauri tinha sido advertido pelo diretor do Banco para não se envolver com a “Saborosa”, pois isso poderia decretar o fim da sua carreira bancária. A agência ficava na praça principal, colada a um “Pé Sujo”. De vez em quando adentrava na agência um garçom, com uma bandeja, contendo uma garrafa de guaraná e um copo. Às vezes vinha, também, um pastel.

Certa feita, o diretor ligou para a agência, e não encontrando o Amauri, conversou com o contador. Este perguntado, informou que o Amauri só bebia guaraná. Ele, no entanto, não falou que os funcionários achavam estranho que o Amauri, depois de ingerir alguns guaranás durante o dia, chegava ao final do expediente com as faces vermelhas, falando meio pastosos e sem firmeza nas pernas. Para alguns, era porque ele trabalhava muito e se alimentava mal, talvez fossem os pastéis, embora considerados de primeira qualidade.

Um belo dia surgiu, na agência, dois rapazes bem vestidos. Estavam numa “linha”, pareciam “manequins da Ducal”. Perguntaram pelo gerente. O contador informou, então, que o Dr. Amauri havia ido visitar a fazenda de um cliente, a fim de avaliar a possibilidade de conceder um empréstimo agrícola. Os rapazes, com aquela “pose de detetive”, identificaram-se como auditores do Banco e ocuparam a gerência da agência. Espalharam vários papéis. Examinaram tudo.

Como a agência era pequena e o número de correntistas idem, eles em uma tarde realizaram seus serviços. Chamaram o contador, elogiaram a agência e o Amauri. Estava tudo em ordem. Preparavam-se para irem embora, quando um deles resolveu esticar a perna por debaixo da mesa da gerência. Sem querer, percebeu que seu pé tocou em uma campainha. Estranhou que ela não fizesse barulho. Pisou novamente e nada. Perguntou ao contador, que disse nada saber.

Por desencargo de consciência, pisou mais uma vez. Como nada aconteceu se levantou e se despediu do contador. Nesse instante, entrou na agência um garçom com uma bandeja, contendo um guaraná, um copo e dois pastéis.

– Pra quem é isso? Indagou um dos auditores.
– É para o Dr. Amauri.
– Mas ele não está aqui, respondeu o contador.
– Então, quem tocou a campainha três vezes, pedindo um guaraná e dois pastéis?

Os três se entreolharam, com cara de espanto. Um dos rapazes perguntou:

– Quando é que o Amauri paga?
– Ele paga no fim do mês.
– Pode deixar a bandeja e ir embora.

Os auditores aprovaram os pastéis e se preparavam para saborear o guaraná. Um pegou o copo encheu e bebeu de uma só vez. O outro ingeriu pela garrafa mesmo. Conforme entrou, saiu. A “Saborosa” batizou os ternos dos rapazes. Quanto ao Amauri? Ele voltou para o Paraíso.

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