Presente de Natal

por novembro/2016Crônicas0 Comentários

Vasco da Gama

Foto: Fidia 82

Bem, como atualmente é moda antecipar o Natal para novembro, os lojistas começam a apresentar os produtos natalinos um mês antes. Já que é assim, eu também vou antecipar a crônica que fala sobre o natal.

Num domingo de dezembro de 1997, o sol desponta, meu amigo “Anônimo de Oliveira” acorda no bairro da Trindade, alimenta seus passarinhos, molha as plantas de “dona encrenca” faz café, arruma a mesa, brinca com o Lorde, seu vira lata de estimação.

Sua esposa acorda:

– Bom dia, meu velho!
– Bom dia! Minha segunda paixão.
– Já sei qual é a primeira, nem ligo mais!
– Mas qual é o motivo de tanta alegria?
– Eu logo te conto, antes que eu me esqueça, coloquei a “preta barriguda” na geladeira, e o bacalhau de molho no leite, pra retirar o excesso de sal.
– Para que tudo isso?
– Para agradar à minha primeira paixão.
– O que é que tem o Vasco com isso?
– Hoje é a decisão do Campeonato Brasileiro, Vasco e Palmeiras.
– Velho, vá devagar, o Vasco pode perder.
– Não vou perder, eu sonhei.
– Outra vez?
– Sim, dessa vez eu vi nitidamente: Sabará, Ademir e Dener conversando com São Pedro, eles estavam aguardando alguém. Logo depois, surgiu São Januário com um sorriso de orelha à orelha, e um sinal de ok com o polegar.

Meu amigo pegou o seu pavilhão, o velho par de tamancos, vestiu a camisa de outras guerras e partiu rumo ao Maracanã. No coração, uma certeza. O sonho foi claro como o dia.

Nas horas de agonia no jogo, ele enrolava o velho e tradicional bigode.

Enquanto isso, em um morro qualquer de São Gonçalo, o meu outro amigo Gonçalino ou melhor o “Gonça”, lixeiro de profissão e filósofo popular, formado nas escolas da vida, sentado em frente à televisão de 27 polegadas, sim, colorida, comprada a “perder de vista”, pois as prestações alcançarão até os netos dele. Mas nada disso tem importância, já que meu amigo queria era ver o seu Vascão. Ele é pobre, e ainda por cima escreveram a palavra “Lixo” em seu uniforme de trabalho que atingiu até a sua alma, a sua única riqueza era o Vascão, que unia ricos e pobres, negros e brancos. O Vasco é uma verdadeira democracia.

Final do dia, final de domingo, final de jogo, início da alegria, de norte a sul deste imenso Brasil, ecoa um grito só, Vasco é Tricampeão.

Sentado na soleira da porta da cozinha, cansado do combate, o velho guerreiro da Trindade, o “Anônimo de Oliveira”, brindava à vitória e agradecia ao novo santo “São Germano”.

E já começa a sonhar com o tetra.

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