Gosto não se Discute

por abril/2013Crônicas0 Comentários

Moça voando na vassoura

Foto: Jaybird

Meu amigo Marco Antonio saiu lá da sua Cajuri, no interior das Gerais e veio morara com o seu cunhado, Sr. Machado, aqui no bairro da Estrela do Norte, em São Gonçalo.

Como bom mineiro, logo que aqui chegou fez questão de conhecer o mar. Foi apresentado à Praia da Luz. Não era bem aquilo que ele sonhava, mas mesmo assim, ficou admirado e exclamou:

– Eta mundão d’água, sô!

Outro dos seus sonhos era comprar um radinho de pilha e poder ouvir as suas músicas prediletas, na voz dos cantores de seu gosto: Nelson Gonçalves, Altemar Dutra, Aguinaldo Timóteo, Ângela Maria e outros.

Graças ao conhecimento do seu cunhado, ele conseguiu um emprego em um Banco. Feliz da vida quando recebeu o seu primeiro ordenado, comprou o radinho e ainda por cima adquiriu também um par de óculos escuros. Ele já se via voltando um dia qualquer à sua cidade, de óculos e com o seu radinho a tiracolo e ainda podendo contar que viu o mar. Aliás, não só viu como pode usufruir a suas delicias, seria glória total para o meu amigo.

Certa feita, o seu cunhado contratou uma empregada nova, que cozinhava bem, arrumava bem, lavava roupa maravilhosamente, enfim tinha todos os predicados que as donas de casa procuram em uma “secretária de forno e fogão”. Sim, ela era um achado, um presente dos céus.

Todos “caíram de amores” pela empregada. Ela chamava a todos de senhor e senhora.

Sempre em tom de voz baixo.

Convém lembrar que esta estória se passou lá pelos anos 70 e a conduta das pessoas era bem mais inocente que nos dias de hoje.

Passaram-se alguns meses em mar de tranquilidade total na residência do Sr. Machado. Como se diz popularmente “tudo azul com bolinhas azuis”.

Porém, sempre existe um porém para enriquecer qualquer estória.

Começou com a irmã do meu amigo, a esposa do Sr. Machado, dando por falta de algumas peças de roupa, coisa miúda.

A princípio ela pensou que tinha colocado em algum lugar e não lembrava onde.

No entanto, pouco a pouco, foi percebendo que, cada vez mais, as coisas iam sumindo. Agora já dera falta de alguns talheres.

Quando ela quis usar o perfume francês, presente de aniversário que o marido lhe dera, não o encontrou. Foi a gota d’água que faltava.

Ela então chamou o Sr. Machado e falou sobre o sumiço das coisas. Foi mais além, acusou formalmente a empregada.

Machado brigou com a esposa. Não acreditava que uma pessoa com uma eficiência tão grande e um ar de inocência, fosse capaz de roubar alguma coisa.

Não tendo conseguido convencer o marido, ela foi conversar com meu amigo (seu irmão).

Este também não acreditou em nada do que lhe foi dito. Mas, para que sua irmã não ficasse zangada com ele, pensou em algo que despertasse a cobiça da empregada, para tentá-la.

Disse que iria colocar o seu querido radinho de pilha sobre o móvel da cozinha, bem à vista da empregada.

Sua irmã então falou:

– Você não deve fazer isso.

– Por quê? Perguntou meu amigo.

– Porque você pode ficar sem ele.

– Não corro esse risco, tenho plena confiança na empregada.

– Olha, aqui não é uma cidade pequena de Minas.

– Ninguém é desonesto até prova em contrário.

– Depois não diga que eu não lhe avisei.

– A aparência não me engana, ela é inocente.

No outro dia, pela manhã, meu amigo acordou cedo, procurou o seu radinho. E qual não foi a sua surpresa. Ele havia desaparecido.

Satisfeita com o novo emprego que arrumara em Niterói, e no qual começaria naquela manhã, a jovem e “competente secretária”, ouvia no seu radinho novo, uma canção na voz de Odair José.

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