Achados e Perdidos

por dezembro/2011Crônicas0 Comentários

Final de ano, meu amigo Gonçalino, lixeiro de profissão e filósofo por devoção, apronta mais uma das suas.

Vamos encontrar o meu amigo Gonça, o mais ilustre torcedor Vascaino de São Gonçalo, no meio do depósito de lixo. Vejamos o que o meu amigo encontrou no último lixo do ano, recolhido no nosso Município:

  • Uma dentadura com uma falha de ouro, com certeza deve ter sido deixada por algum banqueiro beneficiado pelo PROER.
  • Uma senha para atendimento no INPS, com data para o ano 2015, pensionista sofre.
  • Uma perna de pau, deve ter sido deixada por algum jogador do Fluminense.
  • Uma faixa de campeã das escolas de samba de 1997, deve ter sido deixada por algum torcedor da Viradouro, que bebeu todas e acabou esquecendo em alguma esquina da vida. Meu amigo Gonça pegou o troféu e depois de tirar a poeira, separou para levar para o seu barraco.
Lixo extraordinário

Foto: Universo Produção

Lá está uma esperança, verdinha, meu amigo Gonça conversa com ela:
– Quem é você?
– Eu sou a esperança da ligação, por barca, de São Gonçalo para o Rio.
– Mas você está jogada no lixo, abandonada.
– É, os políticos não estão me cuidando com o carinho merecido.
– Mas isso não é uma questão política.
– Eles esquecem que em primeiro lugar está o bem estar comum.

Gonça pega a esperança:
– Eu vou lhe cuidar e devolver-lhe a alegria de viver.

Meu amigo continua garimpando no monturo.

Olha um saco de Papai Noel vazio, com certeza é dos funcionários públicos, sem aumento há vários anos.

Lá está, gemendo, um coração abandonado.

Meu amigo trava o seguinte diálogo com ele:
– Quem é o seu dono?
– Meu dono é a amizade.
– E por que você foi jogado no lixo?
– Amigo é uma coisa difícil de achar.

Gonça, amigo por excelência, recolhe o coração da amizade e leva para o seu humilde barraco, onde com certeza será tratado com muito carinho.

Meu amigo Gonça já ia se retirar do depósito de lixo quando ele olha e vê perdida uma lágrima.
– Quem é você?
– Eu sou a lágrima de agradecimento do poeta Rô Fonseca, por vocês o terem aturado ao longo do ano de 2011. Muito obrigado.

0 comentários

Enviar um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Arquivos