Final de ano, meu amigo Gonçalino, lixeiro de profissão e filósofo por devoção, apronta mais uma das suas.
Vamos encontrar o meu amigo Gonça, o mais ilustre torcedor Vascaino de São Gonçalo, no meio do depósito de lixo. Vejamos o que o meu amigo encontrou no último lixo do ano, recolhido no nosso Município:
- Uma dentadura com uma falha de ouro, com certeza deve ter sido deixada por algum banqueiro beneficiado pelo PROER.
- Uma senha para atendimento no INPS, com data para o ano 2015, pensionista sofre.
- Uma perna de pau, deve ter sido deixada por algum jogador do Fluminense.
- Uma faixa de campeã das escolas de samba de 1997, deve ter sido deixada por algum torcedor da Viradouro, que bebeu todas e acabou esquecendo em alguma esquina da vida. Meu amigo Gonça pegou o troféu e depois de tirar a poeira, separou para levar para o seu barraco.
Lá está uma esperança, verdinha, meu amigo Gonça conversa com ela:
– Quem é você?
– Eu sou a esperança da ligação, por barca, de São Gonçalo para o Rio.
– Mas você está jogada no lixo, abandonada.
– É, os políticos não estão me cuidando com o carinho merecido.
– Mas isso não é uma questão política.
– Eles esquecem que em primeiro lugar está o bem estar comum.
Gonça pega a esperança:
– Eu vou lhe cuidar e devolver-lhe a alegria de viver.
Meu amigo continua garimpando no monturo.
Olha um saco de Papai Noel vazio, com certeza é dos funcionários públicos, sem aumento há vários anos.
Lá está, gemendo, um coração abandonado.
Meu amigo trava o seguinte diálogo com ele:
– Quem é o seu dono?
– Meu dono é a amizade.
– E por que você foi jogado no lixo?
– Amigo é uma coisa difícil de achar.
Gonça, amigo por excelência, recolhe o coração da amizade e leva para o seu humilde barraco, onde com certeza será tratado com muito carinho.
Meu amigo Gonça já ia se retirar do depósito de lixo quando ele olha e vê perdida uma lágrima.
– Quem é você?
– Eu sou a lágrima de agradecimento do poeta Rô Fonseca, por vocês o terem aturado ao longo do ano de 2011. Muito obrigado.
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