O Esperto

por abril/2011Crônicas1 Comentário

Ele era motorista de praça havia muitos anos.

Na época que aconteceu a história que eu vou contar, ele possuía um Aero-Willys bem tratado, um verdadeiro brinco.

Meu amigo era partidário da “Lei do Gerson”, gostava de levar vantagem em tudo.

Dizia sempre que no mundo só havia dois tipos de pessoas: os espertos e os otários.

Bem, é claro que ele apregoava, a torto e à direita, que fazia parte do grupo dos espertos.

Urubatã era o seu nome de batismo, muito embora fosse conhecido no ponto de táxi como “Uruba“. Às vezes, os taxistas o chamavam de “Urubu Malandro“, fato que o deixava orgulhoso, ao que ele respondia: – Malandro não, eu sou é esperto. E dava um sorriso de satisfação.

Certa feita, ele estava com um colega de profissão, em um estacionamento.

– Meu carro está um luxo, só uma coisa está faltando: uma calota na roda dianteira do lado do motorista. Procurei em várias lojas e ferros-velhos e não encontrei.

Eles foram interrompidos por um garoto, que carregava uma lata com água e alguns panos:

O esperto, o malandro

Foto: Alex Senna

– Aí, patrão, quer que eu lave o “possante”?

“Uruba”, esperto como ele só, perguntou: – Quanto você cobra?

O menino já pensando que ia faturar:

– Eu cobro baratinho, é 10 paus.
– Pois eu lhe dou 50, se você arrumar uma calota para o meu carro.
– Olha, moço, isso é roubo, eu não sou ladrão.
– Deixa disso, moleque!
– Não, eu não!
– Pivete, isso é ser esperto.
– E o dono do carro que eu tirar a calota, com fica?
– Fica sem calota, pra deixar de ser otário.
– Vou pensar.

A noite caía e o “Uruba” se preparava para ir embora, quando o garoto chegou com uma calota na mão.

– Está aqui, eu só fiz isso porque o senhor insistiu muito, porém eu estou com pena do dono do carro de onde eu retirei a calota.
– Deixa disso, otário não merece pena.

Ao chegar a casa, ele chamou a mulher e disse.

– Mulher, vai lá fora e dê uma olhada no nosso carro, vê se você nota alguma novidade.

Ela foi, olhou o carro, deu a volta em torno do mesmo, retornando.

– Então? Não descobriu nada. Eu já percebi que esperto aqui nesta casa só tem uma pessoa. Mulher, olha as calotas!
– Eu já olhei.
– E não viu nada?
– Ah! Entendi!
– Até que enfim.

Marido, você trocou a posição da calota, tirou da roda dianteira da direita e colocou na roda da esquerda.

“Urubu Malandro”, bufando, espumando, olhou e constatou que havia sido enganado pelo moleque, que longe dali, pensava em voz alta.

– Esperto é esperto mesmo.

1 Comentário

  1. Jair

    Muito bom site. Indicado.100

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