“Todo mês de fevereiro tem carnaval”, como diz a música.
Meu amigo Careca também gostava da folia.
Na época, 25 anos atrás, os festejos de Momo, em nossa querida São Gonçalo, se resumiam aos bailes dos Clubes Tamoio e Mauá. Havia também os “blocos de sujos”, no Paraíso.
Careca, que morava no bairro da Brasilândia, trabalhava como boy em uma agência bancária em Neves.
Os pais pouco ou nada podiam ofertar para ajudar a rapaziada a fazer seu carnaval. Mesmo assim, eles armavam um esquema para se divertir no tríduo momesco.
Os clientes do Banco, mormente as empresas, no fim do ano davam lembranças (presentes) em sinal de agradecimento pelo bom atendimento durante o ano. Esses presentes eram produtos que as empresas fabricavam. Por exemplo: A Rum Merino, dava garrafas de rum. A Fábrica de Máscaras do Sr. Armando, dava máscaras de carnaval, o dono do armarinho, dava algumas latas de talco etc.
Careca guardava a parte que lhe cabia nos brindes, para serem utilizadas no esquema carnavalesco.
O carnaval já batia à porta da rapaziada. A alegria pairava no ar.
Sábado era o dia do Baile dos Sócios no Tamoio, o melhor baile de carnaval do clube.
A garotada se reunia na casa do Roberto a partir das 20 horas, a concentração ia até 23:30. O rum que Careca ganhara “entrava na dança”. Faziam um cuba-libre para “esquentar as turbinas” da turma.
Eles chegavam no Clube meia hora depois de começar o baile.
O motivo da concentração prévia era porque as bebidas no clube custavam bem mais caro e a “grana” sempre estava “curta”. Tempos bicudos aqueles, porém, éramos muito felizes.
No interior do clube, o máximo que era permitido a cada um dos rapazes consistia em tomar uma única cerveja, além disso impossível, nem juntando os níqueis perdidos nos bolsos de cada um.
“Vida de duro” é dura mesmo.
Rolava a alegria: pula, canta, abraça, beija, tudo era festa.
Na saída do clube uma “ vaquinha” da rapaziada para comprar um saco de leite, para curar a ressaca e preparar o organismo para o “Bloco de Sujo” no Paraíso.
Chegavam em casa para um bom banho frio.
Mãe Janda, perguntava ao Careca:
– Filho você está chegando?
– Sim e não.
– Como assim?
– Eu vim me arrumar para ir pro bloco.
Careca pegava as latas de talco, já vestido com uma blusa “tomara que caia”, uma mini saia da sua irmã, colocava a máscara, e ia à luta, sem jeito nenhum, tentando se equilibrar nos sapatos de salto alto.
Na praça, onde os rapazes já o esperavam, “rolava” mais umas cubas.
Lá pelas 20 horas, eles retornavam aos lares “cansados da guerra”, com cara de “Madalena arrependida”.
Vocês pensam que eles iam dormir? Não, nada disso. Eles diziam que carnaval era só 4 dias, e tinham os outros 361 dias para se entregarem aos “braços do Morfeu”.
Vamos encontrar o grupo na casa do Roberto, na noite de terça-feira “gorda”: neste dia era feito um caldo chamado “acorda defunto”, não sei qual eram os ingredientes, só sei que fumegava e que quem tomava tremia, suava frio, soltava fumaça pelas narinas, mas saía com uma disposição de “carreta na banguela”. A rapaziada ficava “novinha em folha” para mais uma noite no baile do Tamoio.
Quatro horas da manhã o presidente aproveitava que os músicos paravam de tocar para anunciar que o baile teria mais uma hora de prorrogação.
Quase no final de festa, a orquestra “ataca”; “bandeira branca amor, não posso mais…”. Meu amigo Careca, fantasiado não sei de que, trajava uma velha calça Lee rasgada, sem camisa, com uns colares emprestados pela sua mãe, descalço, e na cabeça um grande sombreiro.
Aquela colombina, levanta os braços. As mãos se tocam, os corpos se aproximam, e a música continua: “vou beijar-te agora não me leve a mal, hoje é carnaval”.
Para terminar a festa, os músicos saíam tocando do clube pela rua, só assim conseguiam dispersar a multidão.
Um dia qualquer depois do carnaval a campainha da casa do meu amigo Careca toca. Meu amigo vai atender. Era uma jovem perguntando pela sua irmã, que era colega de escola dela.
Eles se olham e começam a sorrir, o “mexicano” e a “colombina” .
Agora… cinzas?
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