Durante quinze anos eu trabalhei num Banco, na Agência de Neves, que é bairro de São Gonçalo, nesse longo período eu consegui fazer boas amizades, uma delas foi com esse amigo, hoje um respeitável chefe de família. O nome dele é Paulo Roberto, porém, os amigos e familiares o chamam de Paíco.
Meu amigo é uma pessoa de bom coração, prestativo, não sabe dizer não. No entanto é super enrolado, ou seja, marca várias coisas ao mesmo tempo. Resultado: fica tumultuado e deixa de cumprir alguns compromissos assumidos e confirmados com antecedência.
Certa feita a mãe de Paico chegou para ele e disse:
– Meu filho, eu vou à feira e seu pai não vai poder ir. Será que dava pra você me ajudar com as bolsas.
– Claro, mãe, eu saio do Banco para almoçar às 12 horas e passo na feira e levo a senhora de carro comigo.
-Olha lá, Paico, não vá esquecer.
– Pode deixar, mãe. Tchau, já vou trabalhar.
Paico chegou a casa às 12:20 para almoçar e não encontrou a sua mãe, esperou até as 13 horas e nada da sua mãe. Paico já estava se preparando para voltar para o Banco, quando sua mãe surgiu, cheio de bolsas da feira.
– Mãe, eu estou esperando a senhora pra almoçar há mais de uma hora.
– E você que me deixou esperando lá na feira, ainda tive que trazer essas bolsas pesadas.
– Esqueci, mãe! Desculpe-me.
– Só que agora não vai dar tempo de fazer seu almoço, seu cabeça de tutano.
Assim era Paíco.
De outra vez, ele estava esperando uma lancha na estação do Rio (Praça XV). E observou que dois homens conversavam e apontavam para ele. Meu amigo ficou intrigado e somente muito tempo depois é que veio a descobrir o motivo.
Foi sua mãe quem primeiro o chamou sua atenção para o fato de que, às vezes ele ficava falando sozinho, parecendo até que estava discutindo consigo mesmo.
De certa feita, Paíco pretendia ir ao cinema. O dia estava chuvoso, se arrumou, colocou a carteira de dinheiro no bolso da calça e já estava saindo quando sua mãe falou:
– Meu filho, você vai sair de calça branca com esse tempo?
-É mãe, a senhora tem razão.
Paíco vestiu uma calça preta e largou a branca em cima da cama, pegou um troco que estava em cima da mesa e foi embora.
Ao chegar a Niterói, na hora de descer do ônibus, alguém esbarrou nele, ele olhou para trás, era um rapaz franzino. Que imediatamente lhe pediu desculpas. Paíco continuou descendo normalmente do ônibus, porém ao chegar à calçada colocou as mãos nos bolsos da calça e não encontrou a sua carteira. Ato continuo, segurou o rapaz pelo pescoço.
– Minha carteira, cadê minha carteira?!
O rapaz ficou vermelho.
– Não sei de carteira nenhuma.
O tumulto foi aumentando. Nisso chegou um guarda, Paíco explicou o acontecido ao guarda. A autoridade disse então que ia levar todos para a delegacia. O rapaz tremia e suava muito. De repente chega outro ônibus e quase atropela a todos, houve uma gritaria e aproveitando a confusão o rapaz sai correndo e foge.
Paíco reclama com o guarda:
-O senhor é um incompetente, deixou o ladrão escapulir.
– Era o ladrão ou eu, se não saltasse e pulasse o ônibus ia me atropelar.
Paíco, chateado com o roubo da sua carteira e, pior, tinha deixado escapar o ladrão, voltou para casa derrotado.
Ao chegar a casa sua mãe foi logo falando:
– Meu filho, você esqueceu sua carteira no bolso da calça branca.
OBS: O meu amigo já partiu, espero que onde ele esteja não fique zangado comigo.
Muito obrigado pela sua amizade.
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