Aquela família composta por pai, mãe e filha aborrecente era o orgulho do Sr. Gumercindo e Dona Martinha. A filha na flor dos seus 18 anos era tratada como uma joia preciosa pelo pai.
Estudante de uma escola tradicional, dirigida por uma entidade de religiosas, muito rígida e muito conceituada na alta sociedade, a menina era considerada pelo pai um anjo sem asas, tal a sua pureza. Frequentava a missa aos domingos junto com seus pais.
Sua única travessura era que, quando ia para a escola, suspendia um pouco a sua saia deixando aparecer aquelas pernas bem feitas e admiradas pelos rapazes do colégio. Isso era feito logo após a saída da portaria do prédio no qual eles moravam, assim como ela baixava quando chegava à rua do colégio e o inverso quando regressava ao lar.
Seu pai elogiava a saia da filha: “Isso que é postura decente, não dessas meninas que usam a saia curta deixando as pernas de fora! Minha filha não, menina bem comportada.”
Eis que chega o fim do ano letivo e ia haver a formatura da turma, inclusive um baile dos formandos.
No dia do baile o pai liberou a filha pra ir, porém condicionou a ida que ele fosse levá-la e fosse buscá-la ao fim do baile. A menina não gostou muito, porém sabia que se não aceitasse o pai não a liberaria, então ela começou a arquitetar um plano.
No fim da festa, as meninas começaram a ver quem tinha beijado mais rapazes, e a filha do Sr. Gumercindo tinha sido a vencedora com 40 beijos.
Conversa vai, conversa vem, ela descobriu que o seu colega Nestorzinho estava com o carro do pai dele. Ela logo se chegou e pediu a ele uma carona para ir embora. Em seguida ligou para o seu pai e disse que ia pegar uma carona com o pai de uma colega, sendo assim ele não precisava ir buscá-la.
Ao entrar no carro, ela disse: “Estou nas suas mãos, me leve que eu tô doida para chegar”. A cabeça cheia de maldade só pensava naquilo. Nestorzinho, menino puro que estava estudando para ser padre, nem percebeu as intenções da filha do Sr. Gumercindo, que fingia que estava dormindo, sonhando com uma cama redonda e espelho no teto.
Chegamos, a menina abriu os olhos e teve uma surpresa: estava em frente ao seu prédio.
Para felicidade do Sr. Gumercindo, a sua donzela continuou invicta. Não teve bola na rede.
Não houve grito de gol.
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