Hoje eu conto a história do meu amigo Otacílio, mais conhecido na roda da boemia pelo apelido de Tatá.
Morador do Pita, ele estava em todas as “paradas”. Frequentador de todos os pagodes da vida. A rapaziada quando queria saber qual era o programa do dia bastava perguntar-lhe, meu amigo sabia tudo, todas as “dicas quentes” do momento.
Às segundas, ele marcava presença na “Segunda Sem Lei”, às quartas, ia para “Quarta Nobre”, às sextas “Pagode do Açúcar”. Fora os ensaios da Viradouro e da Porto da Pedra. Falou “agito“, meu amigo marcava presença.
Quando não tinha programa definido “baixava” no “Baixo São Gonçalo”, para beber um chopinho “esperto” e um “tira gosto vadio”.
Figurinha carimbada em qualquer evento gonçalense, lá estava meu amigo, sempre com um sorriso e um papo “devagar, devagarinho”, que envolvia as vítimas desprevenidas. Quando davam por si, já estavam presas na teia, bem tecida, pelo Tatá.
Há cerca de um ano atrás, ele resolveu casar. Em princípio ninguém acreditou muito, porém ele dizia que havia encontrado uma boa moça e que, além de tudo, era muito religiosa.
Nos primeiros meses ele sumiu das “bocadas”. Não mais era visto nos locais de sempre, tomou aquele “remédio” e sumiu.
Dois meses depois do casamento, ficou sabendo que o Grupo Armação estava fazendo o maior sucesso na Ilê Auê , antiga Rovian, em Alcântara. Convidou a “cara metade” para ir assistir ao show que se realiza todos os sábados, às 23 horas. A “patroa” declinou do convite, porém, liberou o meu amigo. Aquilo foi “sopa no mel’, ele não perdeu a” deixa”, voltou à ativa, com toda a força, graças ao “salvo conduto” da “dona encrenca”.
Aonde chegava era logo saudado pela rapaziada:
– Fala Tatá!
– Tô aí, galera!
– E a patroa?
– Tá em casa rezando, para ela e pra mim.
Meu amigo levava a vida numa boa, graças à compreensão da santa esposa. Até que um dia, ele começou a se interessar por uma coisa nova. Foi paixão à primeira vista.
Ele não era mais visto nos “pagodes da vida”.
No “Baixo São Gonçalo”, os seus chopes ficaram quentes, os tira gostos já estavam sem gosto.
A rapaziada já falava, à “boca pequena”, que ele havia arranjado uma nova mulher, seria uma paixão fulminante.
Meu amigo comprava presentes, para tornar sua nova paixão mais atraente. Sempre querendo embelezá-la.
Quando tinha alguma folga, lá estava ele pesquisando nos livros uma maneira de entendê-la melhor, só vivia em função do seu novo amor. Nada tinha importância para ele, tudo se resumia na nova paixão.
Quando estava em contato com ela, ele a acariciava com os dedos, vibrava com a sua inteligência e eficácia. Dizia que ela era tudo o que ele queria.
A paixão desenfreada passava por cima de tudo: a falta de alma, a lágrima que nunca se estampava em sua fisionomia, o coração frio.
Não demorou muito sua esposa o abandonou. Consultada por amigas para saberem as razões daquele ato, ela assim falou:
– Fui trocada por uma máquina.
– Você quer dizer uma mulher muito bonita?
– Antes fosse, meu marido me trocou por um computador!!!
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