Aquele menino, de quatro anos de idade, era uma criança alegre e feliz, principalmente depois que travou uma grande amizade com Bingo.
A mãe da criança ouviu um falatório, vindo do quarto do filho. Ela se aproximou e ainda pôde escutar as últimas palavras proferidas pelo menino:
– Você fez “pipi” no chão, e agora minha mãe vai pensar que fui eu.
A mãe se espantou. “Quem estaria no quarto com o menino?”
O menino continuou a conversar com alguém:
– Olha a bagunça que você fez, espalhou todos os meus brinquedos. Eu já disse que os brinquedos têm que ficar arrumados, minha mãe não vai gostar.
A mãe coloca a mão na boca, para conter o riso.
O menino volta a falar:
– Sua cama está toda desarrumada, você não tem jeito, menino irresponsável!
A mãe estava cada vez mais curiosa.
O menino prossegue o papo:
– Ei rapaz, você não tomou banho ainda, e não se esqueça de escovar os dentes.
A mãe colocou a mão na maçaneta da porta.
O menino não fecha a matraca:
– Sabe amigo, você tem razão. Brinquedo é pra criança brincar e não para ficar guardado.
A mãe abriu a porta e viu o seu filho dando um abraço no seu amigo Bingo, com quem conversava. Então perguntou:
– Filho, você estava conversando com a tartaruga?
– Não mãe, ele é meu amigo, e é um “tartarugo”, seu nome é Bingo.
– Tá bem, não vamos discutir sexo de tartaruga.
– Pode deixar mamãe, eu vou colocar o Bingo de castigo, ele fez muitas malcriações.
O que você vai fazer?
– Vou deixar meu amigo naquele canto do quarto virado de patas para o ar alguns minutos.
Nem bem passou um minuto, após a mãe sair:
– Pronto Bingo, vou tirar você do castigo, minha mãe já se foi.
Certa feita, a mãe encontrou o menino com o seu amigo no banheiro.
– O que você está fazendo aí?
– Eu estou preparando o Bingo pra corrida.
– Como assim?
– Estou dando banho nele com xampu, depois vou colocar desodorante, dar um polimento, com cera no casco, deixar ele brilhando, igual ao carro do papai.
– Como é essa corrida?
– Ele é o meu copiloto. Olha só, já estamos prontos para dar a partida.
E lá foi ele amarrado ao velocípede do menino, em desabalada carreira pela casa inteira. O menino estava indiferente aos protestos da sua mãe. De repente, uma curva mal feita na cozinha, um pouco de óleo comestível no ladrilho e uma espetacular capotagem.
Velocípede de rodas pro ar de um lado, piloto estatelado do outro, copiloto com o casco rachado jazia na pista.
Hoje ainda vive em minha memória o meu amigo Bingo.
E muito bom