Eles eram recém-casados, lá pelos idos de 1945. Ele já estava todo frajola, vestiu uma calça branca, uma camisa listrada, calçou um par de tamancos, colocou na cabeça um chapéu de palhinha. Abriu a porta da rua.
Ela perguntou:
– Você vai aonde?
Ele disse que ia “rosetar“.
Ela, com ar de tristeza:
– Sem mim?!
Ele:
– Só vou dar uma voltinha de bonde. E saiu cantarolando “Ó Jardineira porque estás tão triste”.
Ela ficou parada por alguns momentos. De repente, deu um sorriso maroto.
Ruy (era esse seu nome), pegou o bonde no Zé Garoto com destino a Niterói, já fazendo a maior festa no reboque do bonde, com outros foliões, muita serpentina, talco e confetes.
O bonde demorou a chegar em Niterói, pois no Paraíso, em Neves e depois no Barreto havia uma concentração grande de foliões.
Ao chegar em Niterói, ele entrou nos cordões, na Rua da Praia, Rua da Conceição e depois de muito se esbaldar foi para o Rink tomar fôlego.
Lá pelas tantas, começou a sentir um pouco de remorso de ter deixado a sua Jandyra em casa sozinha.
No entanto, quando ele já se preparava para ir embora, passou um pai-joão (mulher vestida com roupa de homem com uma fronha no rosto), dando a maior bola a ele. Ruy se encheu de gás e caiu na gandaia.
O sábado depois do carnaval, à tardinha, Ruy agradeceu a Jandyra:
– A roupa está bem passada, eu estou todo gabola.
Jandyra:
– Você não disse que ia a uma entrevista para arrumar um novo emprego?
Ele, meio sem jeito:
– É isso mesmo.
Na sua cabeça, ele pensava: “Eu vou é me encontrar com o meu pai-joão, lá na porta do cinema Imperial em Niterói“.
Depois de o relógio marcar as 21:00, nosso herói chegou a casa, entrou na sala e ouviu uma pergunta que vinha do quarto.
– É você, Ruy? Como foi, arrumou o emprego?
Ele respondeu:
– Não, levei um bolo do dono da empresa, ele não foi trabalhar hoje.
Ele ouviu um riso vindo do quarto fechado. Jandyra, mandou ele entrar, dizendo que a porta estava encostada.
Ruy empurrou a porta e parou surpreso.
Ali estava em carne e osso o seu pai-joão.
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