Não sei se é sabido, mas eu morei alguns anos na Venda da Cruz, bairro que faz divisa com o Município de Niterói, representado pelo bairro do Barreto.
Depois que eu quase sofri um derrame, os médicos me forçaram a fazer uma série de coisas, tais como emagrecer, mudar meus hábitos alimentares e passar a caminhar uma hora todos os dias.
Em um domingo pela manhã. Depois de caminhar pela rua da antiga fábrica de Coca-Cola até o Largo do Barradas, trajeto que sempre fazia, fiquei a meditar sobre os problemas do bairro.
Se eu me chamasse “João” e fosse um grande cronista, faria meu “jogging” nas calçadas da praia do Leblon, sendo acariciado pela brisa do mar. Como não sou, tenho que me contentar com a fumaça dos ônibus, “cuspida” em meu rosto.
No entanto, existe um Oásis nesse “mar” de poluição que é o bairro do Barreto: o Parque Monteiro Lobato, cheio de verde, flores e ar puro. Aos domingos, ele transborda alegria sob o comando do meu amigo Henrique, que o administra com muito carinho. Existe no local: barraca de mel, barraquinhas vendendo artesanatos, quadra de esportes, pista de skate, uma cantina, um anfiteatro, tudo ao ar livre, em meio à passarada. A criançada adora. Já “marcam” presença no parque: pipoqueiros, sorveteiros, e outros “eiros”. Há ainda umas motos e carrinhos movidos a motor para alugar. A garotada fica louca para “andar” neles.
Era dia de show no parque. Aliás, quase sempre tem alguma boa novidade: teatrinho, mágico, dança, música. Quem fazia a festa no anfiteatro era o Grupo Armação, sob o comando do presidente Bira. – Alô meu presidente! – A animação tomava conta do parque por todos os lados.
Seria bom que os governantes comparecessem ao parque, que vissem como é fácil proporcionar alegria ao povo: muito verde, limpeza, organização, um show prestigiando os artistas da comunidade. O resto deixa por conta dos pais, mães, filhos e avós. Os ecos dos risos, da alegria, da algazarra, enchem o ar de felicidade.
Para encerrar o domingo no parque, lá vem o vendedor de sorvetes, empurrando sua carrocinha, apregoando o seu slogan, adorado pelas crianças e odiado pelos pais:
– Unhê, unhê, unhe, chora nenê, chora nenê, que papai compra pra você.
Na segunda chamada, mortal.
– Unhê, unhê, unhe, chora nenê, chora nenê, que papai compra pra você.
Meio a contragosto, o pai não tem outro jeito, enfia a mão no bolso. A criança com muito gosto enfia o picolé na boca.
O sorveteiro, sorriso no rosto, embolsa a grana e enfia no ar o seu slogan.
– Unhê, unhê, unhe, obrigado nenê, obrigado nenê, o papai comprou pra você.
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