Aquela casa antiga ficava no alto da colina, onde hoje está a igreja Sagrado Coração de Jesus, no bairro do Mutondo em São Gonçalo.
Eles tinham cinco anos de casados, não possuíam filhos, porque a tia Mary não queria, ela dizia que já encontrara um substituto para as crianças. Era o “Zé Roberto” um gato angorá, lindo.
Tio Sidnei não concordava, aliás, ele detestava o “Zé Roberto” por vários motivos: quando estava frio, o gato se alojava na cama dos tios, bem no meio dos dois, cobertinho. Quando era tempo quente, o gato arranjava umas namoradas e fazia festa no telhado, durante a madrugada toda, ninguém conseguia dormir.
Caso o tio reclamasse, a tia dizia que o “Zé Roberto” também gostava de namorar. O tio respondia que o gato podia e ele não, pois o gato era o maior “empata”.
Para o tio Sidnei, o gato era o inimigo público número um, enquanto para a tia Mary era o amor da sua vida, o filho que ela não tinha.
Todo ano no dia de São Pedro (29.06), eles faziam festa caipira “fora de série”. Meu tio confeccionava vários balões: dado, tangerina, elefante com tromba e tudo, e sempre no final da festa, ele soltava um balão todo lanternado que era o grande momento, fechando com chave de ouro a comemoração.
A tia Mary ajudada pelas irmãs, principalmente tia Verinha, cuidava das guloseimas: batata doce, aipim com melado, pé de moleque, cuscuz, canjica, milho verde, bolo de fubá etc.
O tio Maurinho , marido da tia Verinha, era responsável pelas bebidas: batidas de várias espécies, calça de nylon e a bebida principal das festas juninas: “o quentão”, feita com uma misturada incrível, sendo que levava inclusive anis.
Ao chegar à festa, algo me chamou atenção, foi uma alegria revelada num sorriso maroto no rosto do tio Sidnei.
Durante a festa, tudo era alegria, muita comida, muita bebida, a criançada estourava bombinhas e corria atrás das flechas dos foguetes que singravam o ar, saídos das mãos do tio Sidnei. Quem conseguia pegar ostentava o troféu, feliz da vida.
Depois de vários copos de “quentão”, o tio Sidnei começou a preparar as lanternas e a encher o balão enorme que seria o grande astro da noite.
O balão estava cheio, as lanternas acesas, era um espetáculo lindo, o balão já estava quase saindo. Tio Sidnei, no último momento, pega uma caixa de sapato presa a um paraquedas e coloca através de um barbante pendurado na boca do balão.
Curioso, chego perto do balão para ver aquela novidade. Olho a caixa e vejo alguns furos. Por momentos, vejo dois olhos conhecidos. Tio Sidnei explica que, ao chegar ao céu, um estopim fixado no barbante fará a caixa se soltar do balão e o paraquedas se abrirá.
O balão segue o seu destino.
De repente uma luz se desprende e começa suavemente a cair. Tia Mary aponta e diz: “Olha, parece uma estrela cadente. Sidnei, faça um pedido.”
– Já fiz e ele foi atendido.
O tio Sidnei chora, não sei se de alegria, não sei se por causa do “quentão” que ele ingeria.
Dias depois, a tia Mary, triste, perguntava pelo “Zé Roberto”, que tinha sumido. Tio Sidnei, dizia com um sorriso maroto:
– Ele deve ter ido fazer uma longa viagem com alguma gata vadia.
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