Aquela família era composta por pai, mãe e dois filhos: uma menina de três anos e um menino de sete meses. Além deles, ainda havia mais dois membros efetivos (um cachorro e uma tartaruga) e outros incontáveis. Sim, porque os fundos da residência davam pra uma mata que era repleta de outros animais.
O quintal, como nos velhos tempos, era repleto de arvores frutíferas:
O Pé de caju, cujo fruto era apreciado pelos miquinhos (saguis), que faziam festa, embora a menina reclamasse dizendo que o caju era dela e não deles.
O Pé de goiaba, muito apreciados pelos sanhaços e demais passarinhos.
O Pé de manga, frondoso e carregado de mangas na época que a mãe natureza assim determinava.
O Pé de carambola, visitados pelos papagaios que só comiam os frutos verdes, fazendo uma festa, sendo necessária atenção às pessoas que passavam embaixo da árvore, porque poderiam ser atingidas pelos frutos que caiam da arvores quando eles se bancaviavam.
Existia ainda um pé de jambo, um coqueiro, um pé de laranja, um abacateiro, um pé de acerola… Pé de moleque não tem não, porém tem pé de moleca (menininha sapeca).
Quando o seu priminho de quatros anos ia a sua casa, era uma correria só, os dois se gostavam muito. Eles pintavam e bordavam literalmente.
Quando ela estava sem o priminho, ela aprontava com a tartaruga e com o cachorro, que ficava dócil mesmo quando ela aprontava com ele, e olha que ela aprontava muito, coisas que eu nem posso falar aqui.
Lá aparecem vários animais que vivem soltos na pequena mata, são livres como a mãe natureza assim deseja.
Uma família de saguis, cerca de dez membros inclusive uma mãe com um filhotinho nas costas.
Três micos-leão-dourado, um verdadeiro trio ternura, também já deram as suas caras douradas por lá.
Papagaios que se fartam das carambolas.
Gambás que, as vezes, passeiam no quintal sem cerimônia.
Cigarras que cantam anunciando o verão.
Vários pássaros que desfilam os seus cantos diferentes um dos outros: sanhaços, coleros, beija-flor…
Pardais vadios, pombos arredios, periquitos perdidos e muitos outros.
Falemos do nosso personagem central, um bem-te-vi que vivia muito triste porque não tinha uma namorada. Ele cantava um canto sem alegria, melancólico: o canto da solidão que muito mal faz ao coração.
Um belo dia, ele viu, em uma janela da casa, outro bem-te-vi. Aí então, ele ficou todo animado. Depois de certa dúvida, ele resolveu se aproximar. Voou para a janela e lá estava, linda como ele sempre sonhou. Foi amor a primeira vista. Agradeceu a Deus e passou a frequentar com assiduidade a janela da casa.
Ele beijava a namorada, porém ela não retribuía com o mesmo ardor. “Ela deve ser tímida”, pensava.
Vendo aquela cena, os donos da casa ficaram com pena do bem-te-vi, e resolveram intervir.
Colocaram um papel no vidro da janela.
Até hoje o bem-te-vi não entendeu por que o seu amor foi embora.
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