Dia 16 de agosto é o dia do cardiologista. A história deste mês tem a ver com a medicina. Será?
Meu amigo Wilson, morador da nossa cidade, é um chefe de família exemplar, porém não é perfeito. A sua falha, que sua cara metade já nem reclama mais, são as sextas-feiras. Dizem os antigos que sexta-feira é dia de lobisomem, os modernos dizem que é o dia internacional do adultério. Pois é, no entanto, para o meu amigo sexta-feira é o dia do chopinho amigo, lubrificante tradicional daquele “papo mentiroso”.
Em uma sexta-feira do mês de agosto, ele resolveu não ir ao médico, ou melhor, disse aos amigos que não iria bebericar, pois queria chegar cedo a casa porque havia combinado com a sua patroa que a levaria a uma festa na casa da família dela. A esposa já havia telefonado para o trabalho dele três vezes, lembrando-lhe do compromisso assumido, pois eles seriam padrinhos de casamento de uma irmã dela. Para chamar mais pela responsabilidade dele, ela dizia que tinha reservado hora no cabeleireiro, na manicure e na maquiadora. Sempre ao final do telefonema, ela falava seriamente: – Olha lá o que você vai aprontar, não se atrase.
Meu amigo sabia que aquele sacrifício seria bem recompensado. Dali para frente, as sextas-feiras seriam mais livres do que nunca. Então, ele não podia “pisar na bola”. Por isso, embora com a garganta mais seca do que o Piauí, ele resistiu bravamente e disse um sonoro não.
A rapaziada ainda tentou argumentar.
É unzinho só.
– É só enquanto à chuva para.
– Não vai marcar o Ponto?
– Aí cara, é rapidinho.
Meu amigo sentia as pernas bambearem, a boca salivar, o estômago querer. Mas no seu pensamento vinha a imagem da patroa toda arrumada, sentada na sala, com a “cara de poucos amigos”. Então ele recobrava o juízo. Dizia com uma feição de condenado:
– Infelizmente não posso, fica para a próxima. Na próxima eu vou à forra com tudo que tenho direito.
Despediu-se e foi para casa.
No ônibus ele teve a ideia de fazer uma média maior com a esposa, resolveu descer do coletivo no Rodo de São Gonçalo, para comprar uma dúzia de rosas. Assim, a sexta-feira seria inesquecível para a sua companheira.
Após comprar as flores, meu amigo caminhava pela calçada todo feliz, nem se incomodando com os pingos que do céu caíam. Eis que, repentinamente, ele escorrega na calçada molhada e bate com a cabeça no meio fio.
Abre os olhos e vê-se numa cama de uma enfermaria vestindo um roupão azul claro. Ao seu lado umas dez pessoas vestidas de branco. Um que parecia o que comandava, com uma prancheta na mão, falava e anotava:
– Atenção, gente! Nós não temos muito tempo a perder, vamos logo enquanto a “mercadoria” está fresca.
Então, começou a reunião:
– Eu quero comprar.
O que comandava disse:
– Tenho aqui um material de primeira qualidade.
– Dou R$ 500 pelos olhos.
O comandante:
– Estes olhos castanhos, valem muito mais.
– Dou R$1.000.
– Vendido!
E o leilão continuou.
– Tenho aqui um par de rins em perfeito estado.
– Ofereço R$200.
– R$200 é o preço de um rim.
Outro participante:
– Compro os dois, mas quero desconto.
– OK! Os dois por R$360.
Mais adiante.
– Tenho aqui um “Figueiredo” em perfeito estado, vê-se que o proprietário nunca ingeriu álcool.
Meu amigo esboçou um sorriso. Vendedor é sempre igual em qualquer situação.
Eles já tinham comprado todo o corpo do meu amigo, inclusive aquilo, não faltava mais nada.
O chefe pegou um facão enorme caminhou em direção ao meu amigo, jogou álcool sobre ele para desinfetar e disse:
Vamos separar as peças.
Wilson sentiu o facão, deu um grito. Abriu os olhos e viu que tinha umas pessoas em sua volta na calçada. Levantou-se e começou a correr, só parando em casa. Teria sido um sonho?
A patroa sentada na poltrona da sala, espumando, pois já havia passado duas horas do combinado:
– Isso são horas?
– Mas eu levei um tombo.
– Também com essa cara cheia.
– Eu não bebi.
– É?! E esse cheiro de álcool?
– Foi no…
Daí para frente, o meu amigo nunca mais deixou de visitar o Dr. Chopp nas sextas-feiras.
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