Na casa de mãe Janda o Natal era comemorado com tudo que tinha direito. Os filhos, os netos, todos participavam com muita alegria. A casa ficava cheia de gente, dois dias de “comes e bebes” já que, no dia seguinte, tinha o “enterro dos ossos“, ou seja, as sobras da véspera.
Não faltava nada na festa: vinho de garrafão, aquele bem popular de qualidade meio duvidosa, cerveja bem gelada, branca e preta “barriguda”, muitos refrigerantes para “matar” a sede da galera miúda, salgadinhos de várias qualidades – destacando-se os bolinhos de bacalhau – várias especiarias natalinas: nozes, avelãs, castanhas, rabanadas, frutas cristalizadas e tudo mais que um Natal merece. Ah! Ia me esquecendo: no centro da mesa posta, dois perus, senhores da festa, pois um não dava para toda a família.
Enquanto as mulheres trabalhavam sob o comando de mãe Janda, para que tudo ficasse pronto no momento certo, os homens arrumavam as bebidas no gelo e também saiam em busca das coisas que faltavam, a última hora. Enfim tudo pronto para se iniciar a festa.
Primeiro eram entregues os presentes dos “amigos ocultos”. Sábia invenção. Só assim cada um comprava somente um presente, ocasionando uma grande economia no bolso de todos e a felicidade era geral.
O que eu mais gostava era ver a alegria das crianças no dia seguinte, desfilando seus brinquedos novos. Ainda hoje eu fico encantado com aqueles rostinhos vendendo alegria e felicidade ao mundo.
O grande momento da festa era quando o relógio marcava meia-noite. Após a leitura por todos da mensagem cuidadosamente escolhida por uma das noras de mãe Janda, as crianças eram reunidas na sala. As que estivessem dormindo eram acordadas, para não perderem a ocasião.
Badalando uma sineta, eis que ele dá entrada no recinto com sua indumentária peculiar: roupa vermelha, saco às costas, gorro, botas e tudo que tinha direito, para delírio da petizada.
Sim, ele em pessoa: Papai Noel.
Os presentes, que os pais haviam trazido escondido das crianças, eram colocados no saco de Papai Noel. Agora o bom velhinho estava entregando à garotada, chamando pelo nome: Marcos, Fabiano, Fernando, Rodrigo, Marcele, Juan. Alguns sonolentos, mesmo assim abraçavam e beijava o bom velhinho, surpresos e alegres.
No meio da cena, eis que o inesperado aconteceu: uma das crianças ao beijar o rosto do velhinho se apoiou na barba branca (algodão) do Papai Noel, que, embora tenha rapidamente ajeitado, por segundos deixou a mostra o seu rosto.
A criançada viu, e um gritou:
— É o vovô!
O encanto se quebrou, a criançada entrou em agitação. Um menorzinho começou a chorar. Perguntado por que estava chorando, ele respondeu:
— Eu quero o Papai Noel de verdade.
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