Ele se achava desempregado, cansado de tanto gastar a sola dos sapatos, sempre recebendo um não como resposta. Currículo já tinha enviado muitos e nada, até a esperança já tinha batido as asas, tachado de preguiçoso por todos. Pra piorar contraiu o Covid-19 , quase morreu. Um mês depois conseguiu se salvar, teve alta do hospital. Sem ter onde morar e abandonado pela família, pensava que teria sido melhor morrer, porém Deus não quis.
Então ele caiu no mundo. Primeira coisa a fazer era procurar um local para se estabelecer. Depois de muito procurar, ele achou na Lapa uma esquina desabitada e coberta por uma marquise.
Na primeira noite o céu chorou muito com piedade daquele senhor de cabelos brancos. Porém logo surgiu um amigo, um vira-lata que também estava sem abrigo e pegando chuva. Meu amigo logo o acolheu e os dois dormiram juntinhos, um aquecendo o outro.
Ao acordar, descobriram a solidariedade do povo: já tinham deixado um colchão velho, uma coberta de casal, uma garrafa térmica com café, pão, uma caneca e uma vasilha.
Durante o dia eles saiam a passear, tomavam banho no chafariz da Praça Paris. À noite se deliciavam com as rodas de samba da Lapa, viam a lua passeando no bonde de Santa Tereza,
E o céu cravejado de estrelas.
Por incrível que pareça o perdido e o vadio eram felizes.
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