Hoje eu conto a história do meu velho amigo Sr. Bernardino.
Morador da Covanca aqui em nosso São Gonçalo querido. Aposentado há muito, ele costuma passar alguns dias na casa das suas filhas.
Aurora, uma delas, reside no bairro do Ingá em Niterói, para onde o meu amigo vai com a sua companheira de todas as horas, com quem se casou no civil e no religioso. Aliás, coisa que hoje em dia não se usa mais. A garotada só quer saber de “ficar”… Chega, come, dorme e depois “dá no pé”.
Aproveitando a proximidade do mar, meu amigo faz uma caminhada todas as manhãs no calçadão da praia. E lá vai ele no seu estilo “animal”, ou seja, se passa por ele uma menina de shortinho, as passadas aumentam, entra em cena o “coelho”. Quando não existe nada à vista, as passadas são normais, igual a “tartaruga”: sem pressa nenhuma de chegar. Pensando bem, não querendo chegar.
Grande conhecedor do futebol carioca, ele adora conversar sobre os feitos do seu clube do coração, que foi campeão carioca e tinha um excelente time na época e muitos torcedores.
Política também era um assunto da predileção do Sr. Bernardino. Ele se empolgava quando começava a falar dos políticos, que marcavam presença na sua memória: marechais, tribunos, governantes.
Eu sei que vocês, amantes do futebol, estão curiosos por saber qual é o time do coração do Sr. Bernardino. É o Esquadrão “Alvo”. Não amigos, não é o Santos de Pelé. O time é o São Cristovão, que, embora muitos não saibam, já foi campeão carioca em um passado longínquo.
Não me esqueci dos nomes dos políticos que meu amigo cita em suas conversas: marechal Deodoro da Fonseca, marechal Hermes, tribuno Ruy Barbosa, e outros menos falados.
Fazia alguns meses que ele vinha se queixando de uma dor de dente, que não lhe dava trégua.
Sua neta Regina, compadecida da situação do seu avô querido, resolveu levá-lo a um dentista, para sanar o problema.
Ela conseguiu junto à UFF, que tem um serviço social muito bom na parte odontológica, uma consulta.
Dia marcado lá estava o Sr. Bernardino na sala de espera, aguardando o seu atendimento.
O jovem estudante, quase formado, examina os dentes do Sr. Bernardino, com todo o carinho que as pessoas idosas merecem, e dá seu veredito:
– O senhor vai ter que extrair este dente, que está muito cariado.
– Mas eu só tenho este.
– Eu sei, porém ele está condenado.
– Não tem jeito de conservá-lo?
– Infelizmente, a solução única é extrair. Aguarde um pouquinho que eu vou pegar a anestesia, para aplicar na gengiva.
Aproveitando a saída do dentista, meu amigo saiu de fininho, usando o passo do “coelho”, só parando na casa da sua filha.
Dias depois, ele encontrou a sua neta e travou-se o seguinte diálogo:
– Vovô como foi lá no dentista?
Fazendo “cara de inocente”, ele responde:
– Foi tudo bem.
Entrando na conversa, Aurora fala:
– Papai, não minta, diga a verdade.
– Mas eu já disse, tudo bem.
Regina insiste:
– Vovô, o que houve?
Aurora intervém:
– Ele fugiu da cadeira do dentista.
Regina brava:
– Vovô, isso não se faz! É difícil conseguir uma vaga para ser atendido.
Aurora mais uma vez “mete o bedelho”:
– Papai, ainda por cima é de graça.
Encurralado por todos os lados, meu amigo, vovô Bernardino, dá o “xeque-mate” naquela situação:
– Acontece que este meu dente é a única testemunha da minha participação na Guerra do Paraguai.
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