O Coelho Borró

por agosto/2013Crônicas0 Comentários

Aquela era uma família pobre.

Morava em uma casa alugada de quarto, sala, cozinha, banheiro e um mini-quintal, cercado por um muro alto. A família se compunha de pai, mãe, dos meninos de 7 e 2 anos, uma menina de 5 anos e o ponto de equilíbrio, uma avó. O pai estava desempregado e não fazia por onde arranjar algo para fazer, vivia nos bares da vida, tomando todas. A mãe, então, vendo aquela situação, teve que partir à luta. Começou a trabalhar como enfermeira durante a noite e estudar de dia. Às vezes, saindo direto dos plantões para a sala de aula.

O filho mais velho, que era o “esquindim” da avó, parecia um “pau de virar tripa”, de tão magro, uma vara de bambu. Também, pudera, só queria batata frita e toddy, copo cheio. Não comia mais nada. A menina, quando estava arrumada, ficava tal qual uma boneca, com seus cabelos em cachos.

Certa feita, a menina queria por que queria um pedaço de maçã que o pai comia. Fez manha, chorou, armou o maior circo. O pai com raiva cuspiu na maçã e ofereceu à menina, que aí não aceitou e calou-se, indo para um canto triste. O outro menino era um pouco doentinho, o que o salvou foi a carne de rã, um santo remédio.

A avó era o membro da família que possuía melhores condições financeiras, graças à pensão que recebia do marido falecido. Ela socorria a todos, dava dinheiro pro pai comprar cigarros e fazer compras. Só que ele tirava um pouco para as pingas, comprava balas para as crianças, sempre mais pro queridinho.

Foto: Andrew

Foto: Andrew

Certa feita, uma tia deu ao filho mais velho um coelho, com a promessa de que ele passasse a comer de tudo. O colho tinha o pelo pretinho, os olhos vermelhinhos e uma alegria imensa. O menino, quando o viu, se apaixonou no ato. O afeto do coelho foi recíproco, pareciam amigos há muito tempo. O consumo de batatas fritas e de toddy aumentou. Tudo que o menino comia, dividia com o seu amigo.

O pai, certa ocasião, chegou de noite em casa um pouco alcoolizado e esqueceu-se de fecha o portão. Quando a avó deu por conta o coelho tinha saído. E agora? Perguntou a avó. Vai diminuir a despesa! Retrucou o pai.

Mas, para felicidade geral, horas depois a avó escutou um barulho no portão, então fechado. Sim, lá estava o “Borró”, pois esse era o nome que o menino havia dado ao coelho. A partir daí, todas as noites o “Borró” saia para seu passeio noturno. E voltava sempre.

Porém (sempre existe um porém), outra noite ele não voltou mais. O menino não parava de chorar, não queria comer nem tatás fritas e nem saber de toddy. Seus olhos já estavam da cor dos olhos do “Borró”: vermelhos. A avó rezava um terço todos os dias. A mãe fez promessas. O pai bebia mais e dizia que era de tristeza por causa do filho.

Em uma determinada manhã, o menino amanheceu sem chorar. A avó indagou o que ouve e o menino respondeu: – Vó, eu vi o “Borró” ontem à noite. – Onde? Perguntou a avó, surpresa. Eu estava dormindo e vi. Ele estava no colo de um homem vestido de branco, com uma barba e um arco-íris em volta de sua cabeça. O homem estava sentado em um trono e parecia um Rei. Ele passava as mãos nos pelos de meu amigo “Borró”, que estava feliz. – Que mais? Quis saber a avó. – O homem disse que estava cuidando de “Borró” para mim, até eu ir para lá.

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