Namoro à Mineira

por junho/2010Crônicas0 Comentários

A história de hoje é sobre um lugar pequeno e grande ao mesmo tempo. Pequeno na sua área geográfica e grande no seu carinho para com os visitantes. Eu me refiro a Cajuri, lá em Minas Gerais.

Entrei de férias no dia primeiro e já no dia dois estava num trem que partiu da Estação da Leopoldina com destino a Cajuri, aceitando um convite formulado por um amigo para conhecer a sua cidade natal.

Como fomos os últimos a comprar as passagens, tivemos que viajar em pé até a cidade de Recreio. Se minha memória não me deixar mal, foram umas seis horas de sofrimento.

As paisagens vistas da janela do trem eram muito bonitas: fazendas, rios, povoados, cidades. Respirava-se um ar puro, fazendo com que os meus pulmões reclamassem, pois já estavam viciados com a poluição da grande cidade.

Quando estávamos chegando à cidade, notei que a estação estava cheia de gente. Perguntei ao meu amigo se tinha alguém importante no trem. Ele me respondeu que era uma recepção para mim. Na minha santa ignorância, por momentos, até acreditei.

trem

Foto: Stefan Jansson

No dia seguinte, lá estava eu de banho tomado e todo arrumado na estação do trem como qualquer morador da cidade, pois a chegada do trem é um acontecimento importante na cidade. Durante minha estada na cidade, eu não perdia nenhuma chegada do trem.

A família do meu amigo tinha uma casa na cidade e uma fazenda na zona rural.

Acordei assustado com o barulho estranho que vinha da rua, pois a janela do quarto em que eu estava dava para a rua. Abri um pouco a janela e vi um negrinho candiando dois bois que puxavam uma carroça. O barulho ouvido por mim, era o ranger das rodas. E lá ia o menino tal qual um maestro com a sua batuta na mão firme na condução do espetáculo.

Meu amigo tem um irmão um ano mais novo do que ele. Naquela época ele morava lá na cidade.

Sendo sabedor que eu andava bem de bicicleta, através do meu amigo, o seu irmão me convidou para ir com ele e outro colega a um lugarejo próximo, onde ele tinha uma namorada e como já tinha alguns dias que ele não falava com a menina, estava a fim de namorar um pouco.

Saímos às 18 horas. O amigo dele na frente, na bicicleta que tinha farol, ele no cavalo e eu na bicicleta sem farol.

E lá fomos nós na aventura. Eu todo confiante na minha capacidade de ciclista da cidade.

Abre porteira, fecha porteira e tome de estrada poeirenta. Estrelas brilham no céu, os grilos cantam no mato. E tome estrada. De repente o rapaz da bicicleta com o farol para, o irmão do meu amigo desce do cavalo e corre para frente do farol. Um bicho pequeno entra no mato. “Era um coelho e quando a luz do farol bateu nos olhos dele ele ficou cego por segundos” – explicou o irmão do meu amigo.

Agradeci ao coelho, pois já estava quase entregando os pontos, a parada foi providencial.

Chegamos ao lugarejo às 21 horas. Havia uma quermesse na escola pública do local. O irmão do meu amigo se aproximou de um grupo de moças, conversou com uma em particular sem se afastar do grupo. Retornou para perto de mim e do outro rapaz e falou:

– Êta namoro danado de bom, sô!
– Mas já vamos?
– Já, uai.

Seis horas de viagem para quinze minutos de uai.

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