O Gongo

por maio/2013Crônicas0 Comentários

Essa estória me foi contada pelo meu mestre Rujany Martins.

Nos idos de 1950 e qualquer coisa, a grande figura era o Dr. Assis Chateaubriand. Ele tinha um poder enorme, era o dono dos Diários Associados. Rádios, Jornais, Televisão.

Uma pessoa muito influente no meio político brasileiro na época.

Existia na Rádio Tupi do Rio de Janeiro um programa de calouros, que era comandado pelo radialista, compositor, narrador esportivo, flamenguista “doente”, Ari Barroso.

O programa consistia na apresentação de calouros que interpretavam músicas da época, imitavam artistas consagrados, igual aos programas de calouros de hoje. Quem não conseguisse um bom desempenho era reprovado.

A única diferença era como se dava essa reprovação. O Ari fazia um sinal previamente combinado para o seu assistente. Este se incumbia de “despachar” o candidato com uma sonora gongada.

Seu auxiliar, o Macalé, um negrinho baixinho, pegava uma baqueta enorme e tacava no gongo, que ficava dependurado, preso por dois cordéis. O som era forte e assustador. Além disso, ele fazia uma careta para o calouro gongado. Aliás, o meu amigo Fidelito (o Macalé), trabalhou em uma empresa estadual, onde era conhecido como “embaixador de São Lourenço-MG”.

Querendo levantar algum dinheiro e mais prestigio, o Dr. Assis “armou” uma comemoração no antigo I.A.A. (Instituto do Açúcar e Álcool).

Na sua fala inicial, o Dr. Assis explicou que, devido ao grande número de autoridades presentes, inclusive o Presidente da República, cada orador não poderia se estender por mais de dois minutos. Quem se estendesse seria gongado pelo Macalé, que todo empolgado se achava num canto do salão, aguardando um sinal do Dr. Assis.

Dado início ao falatório, os primeiros oradores não precisaram dos trabalhos do Macalé.

No entanto, lá pelas tantas, um general se excedeu no seu discurso. Dr. Assis fazia sinal combinado e o Macalé nada. Mais sinais. Macalé, indeciso entre o dever e o medo, já estava passando de negro, para cinza, depois amarelo, finalmente branco.

Ai, não aguentou e desmaiou.

O Dr. Assis pegou a baqueta e gongou o orador. Daí para frente o gongo não mais soou.

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