O Inimigo Oculto

por setembro/2008Crônicas0 Comentários

Eu tenho uma amiga que se chama Maria Helena.

Em setembro do ano passado, a empregada precisou se ausentar por um dia da casa da minha amiga.

Só então ela percebeu que a conta de água vencia naquele dia. Vestiu-se bem, como sempre, e partiu decidida para enfrentar o Banco, já que nunca fugiu de nenhuma parada, tendo, certa feita, posto para correr um pivete que tentou arrebatar o seu relógio de pulso, na Praça do Lido. Mulher de coragem estava ali.

Após permanecer uma hora na fila do lado de fora do Banco e mais 30 minutos do lado de dentro, finalmente chega a sua vez, restando à sua frente uma senhora idosa, que já conversava com o caixa.

O funcionário do Banco, solicitava à pensionista o seu cartão de benefício, para efetuar o pagamento.

A senhora abriu a bolsa, feita com retalhos de panos, que carregava consigo, e começou a tirar as coisas mais loucas e nada do cartão aparecer. Primeiro, ela sacou da bolsa um elefante (animal que vive muitos anos), depois uma girafa (animal que tem pescoço grande para observar a vida alheia), a seguir, um papagaio (animal que fala muito), posteriormente, uma borboleta (animal que adora bater asas pela vizinhança), por fim, uma fantasia de colombina, com alguns furos causados pelas traças, e nada do cartão. Quando a velha se abaixou com o intuito de pegar aquela fantasia que havia feito tanto sucesso no Baile da Ilha Fiscal, minha amiga fez uma cara de horror, gritou socorro e desmaiou.

No guichê ao lado, uma jovem senhora contava um bolo de dinheiro que havia recebido naquele instante. Com o grito de socorro, escorregou e voou nota pra tudo que foi lado.

O Banco estava cheio. O tumulto era grande. Os clientes tentavam pegar as notas, ocasionando mais confusão.

Apavorado, um senhor tentou sair correndo do Banco, só que atravessou o vidro fixo da porta, quebrando-o.

Os funcionários se jogavam embaixo das mesas. O alarme foi acionado.

Os vigilantes do Banco não sabiam o que fazer, pois eles não viam onde estavam os ladrões.

Na porta do Banco a balbúrdia era geral. Gente desmaiando, tabuleiro de camelô voando. É o “Setembro Negro”.

Nisso, um Tanque de Guerra que ia para o local destinado à concentração para desfilar na parada de Sete de Setembro, resolveu também dar uma olhadinha naquela baderna.

Horas mais tarde, já com a presença da Polícia Militar, a agência bancária parecia mais uma praça de guerra. Havia no chão: 2 dentaduras, 1 peruca, 3 óculos, 1 maço de cigarro saratoga, 1 cachimbo, 1 bengala quebrada, 1 pé de sapato furado e 1 vidro de rum Creosotado.

Os policiais começaram a interrogar os presentes, até chegar a origem de tudo o que aconteceu.

Minha amiga, instada pelos policiais, disse que, quando a pensionista pegou a fantasia de Colombina no chão, surgiu aquele monstro.

– Que monstro? – perguntou o policial.

Minha amiga, com cara de raiva, respondeu:

– Uma B A R A T A .

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