Essa história me foi contada pelo meu amigo, Dr. Almeida, gente da melhor categoria.

O meu amigo ficou como acompanhante da sua querida esposa, Dona Marieta, num hospital. Durante alguns dias, ele ficava até o fim da tarde, quando as irmãs da sua esposa chegavam e dormiam com ela no hospital. A alimentação era abundante. Meu amigo, como acompanhante, tinha direito às refeições. Na hora do almoço ele almoçava, porém as suas cunhadas não jantavam, pois elas traziam frutas para refeição.

Meu amigo às vezes levava a comida para jantar em casa, outras vezes devolvia. Como ele não tocava na comida que era devolvida, pensava que o hospital a aproveitava.

Certa feita, conversando com um médico, ficou sabendo que toda a comida devolvida ia pro lixo, pois segundo o médico a comida já tinha sido manipulada. Ele pensou consigo mesmo que desperdício.

Foi então que, saindo do hospital para ir para casa, ele conheceu o cidadão Sr. Jurandir.

A residência do Jurandir ficava de um lado da rua que tinha uma loja de bicicletas, que também era uma  lanchonete. Do outro lado tinha uma igreja e ao lado da igreja o hospital, onde estava a Dona Marieta. Mais adiante tinha outro hospital. É, o Sr. Jurandir estava muito bem de vizinhança.

Durante o dia ele ficava em frente à igreja e à noite ia para a sua morada. Ele se aconchegava na cama, se agasalhava e depois dormia o sono dos justos.

Meu amigo passou a levar a janta para o Sr. Jurandir toda vez que saía do hospital.

Certa feita, quando chegou ao lar do Jurandir, ele estava saboreando uma cerveja gelada.

– Qual o motivo da cerveja?

– É que passou um ciclista, muito feliz porque o Vasco tinha vencido o Flamengo. E como ele sabe que sou vascaíno, me deu uma lata para comemorar a nossa vitória.

Uma noite, quando o meu amigo foi dar a comida para o Jurandir, ele não aceitou e disse:

– Eu hoje já almocei, dê a outro necessitado, por favor.

Já ia esquecendo: o Sr. Jurandir mora num banco na parada dos ônibus.